terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Folha em Branco


Quando eu era menor eu gostava muito de desenhar. Pra falar a verdade eu ainda gosto. Mas quando eu era menor, eu tinha meu caderno de desenhos, que mais tarde evoluiu para uma pasta, que guardo até hoje. Enfim, eu não me distanciava muito de um lápis, uma borracha e uma folha de papel. Era tão fácil começar um desenho, o difícil era chegar até o fim, depois de alguns borrões da borracha, e marcas dos erros e de dedo sujo no papel, dava um desânimo de terminar. O melhor que se tinha a fazer era arrancar a folha do caderno, amassar e começar de novo.

Às vezes tenho vontade de fazer isso. Agora não com um desenho, mas como minha vida. Tantos borrões, tantas marcas, essa bagunça toda sinceramente dá um desânimo lascado. É por isso que às vezes eu tenho vontade de ir embora, começar do zero, como numa folha em branco.

Mas como em todo desenho borrado, tem aquela parte que ficou boa. Aquela parte que ficou quase perfeita. Aquela parte que você com muito esforço conseguiu fazer, e sabe que se jogar fora, pode não mais conseguir fazê-la. Pois é, o lado ruim de abandonar tudo, é que você abandona tudo mesmo. Redundante, mas é isso. Abandona todas as feridas, todas as mágoas, mas também abandona muitos amigos, muitas conquistas, muitos sonhos...

Se vale a pena arriscar tudo isso eu não sei, mas todos os dias sou tentado a fazer isso. Todos os dias cabe a mim escolher entre persistir, ou simplesmente embolar a folha de papel, atirá-la contra o cesto de lixo e começar de novo em uma folha em branco. Uma folha de papel não custa mais do que alguns centavos, um desenho apesar de muito querido é somente um desenho, não há nenhuma perda irreparável. Mas nossa vida é diferente. Escolher parar de persistir pode causar muitos danos. Principalmente ao seu coração. Eu acho. Sei lá. Não cheguei a tomar essa decisão para poder falar com tanta firmeza. O que sei é que Deus não tem prazer em nos ver retroceder.

O ano de 2010 se encerrou, 2011 está só começando, talvez isso não seja a folha em branco tão desejada, mas é sim uma chance de começar de novo. Os borrões ainda estão lá, a folha já está quase furada de tanto apagar, mas a imagem final vai sobrepor qualquer defeito e rasura. E a imagem da qual falo não é mais daquele simples desenho, mas da imagem de Deus, e dela eu afirmo com certeza que não vale à pena desistir. E como no desenho, há um momento clímax, em que é preciso parar, se concentrar, olhar atentamente para o original, olhar atentamente para o desenho, e enfim perceber o que não está de acordo, e aonde você está errando; é preciso também parar, olhar que rumo que o lápis que dirige a sua vida está levando, e se for preciso apagar novamente, apague, mas deixe a Imagem que Deus quer estabelecer em sua vida ofuscar as manchas.

Não vou dizer que essa é opção mais fácil, porque não é. É muito mais fácil embolar a folha de papel, e quem sabe até nem tentar de novo. É muito mais fácil fugir de um relacionamento complicado do que lutar por ele, é muito mais fácil abandonar um sonho do que conquistá-lo. Escolher abrir mão de relacionamentos, é com certeza abrir mãos de todas as mágoas que vêm com ele. Abrindo mão dos sonhos você automaticamente se livra daquele fardo estafante de cansaço sem fim. Só que lembra-se daquela parte difícil que você conseguiu desenhar? Pois é, todas as alegrias compartilhadas e todos aqueles desejos esperados também vão por água abaixo.

É, parece que a folha não fica tão em branco assim. Como no caderno de desenho, você arrancou a folha de cima, mas na folha de baixo ainda se pode ver as marcas da folha anterior. No fim das contas, enquanto o desenho não está pronto, as marcas ainda estão lá, quer sejam para te lembrar tudo que você passou para chegar até onde chegou, ou as marcas da saudade daquilo que você estava prestes a terminar, mas desistiu, e não pôde ver o resultado final.

“Até que todos cheguemos a unidade dá fé, ao pleno conhecimento do filho de Deus, a varão perfeito, a estatura da Plenitude de Cristo.” (Efésios 4:13) É essa a imagem que Deus quer estabelecer em sua vida. Não arranque a folha até que você chegue à Plenitude de Cristo.

sábado, 9 de outubro de 2010

Jesus sem consoantes...



Sim, sem consoantes... Quando a vida cristã, se é que podemos assim dizer, não passa de um “mal hábito” do qual você não consegue se livrar e, Jesus, aquele seu amigo de domingo, sempre presente nos velhos jargões que não saem da sua boca, já quase não é lembrado, tudo o que resta são apenas duas vogais: EU.

Talvez eu tenha me expressado mal quando disse “mal hábito”. Não é que seja algo ruim que não se consiga mais parar de fazer; o negócio é que se tornou uma mera rotina. E embora a rotina de buscar a Deus possa parecer algo bom, o risco do coração se perder no meio dessa costumeira é bastante elevado. E enquanto essa rotina se solidifica, seu subconsciente estabelece alguns paradigmas. “Ir para igreja todo domingo é meu dever de cristão, e é o mínimo que eu devo fazer.” Não! Não, não e não! O mínimo que você deve fazer é entregar seu coração para Deus todo santo dia.

YHWH. É como o nome de Deus era escrito pelos judeus. Coincidência ou não, eles omitiam as vogais por não se considerarem dignos de mencionar tal Nome. E hoje, o que lastimavelmente acontece é que o que omitimos são as consoantes, agora não mais no papel que se escreve, mas no coração. Seja numa incansável busca pelos privilégios do evangelho da prosperidade, ou num marasmo bolorento da vida cristã de quem não quer fazer nada, ou mesmo na estafante trilha rumo a uma gloriosa posição que lhe dê um mínimo de status. Seja lá qual for o caso, Jesus há muito ficou para trás.

“Venha a nós o nosso reino, seja feita a nossa vontade” em coro é entoado, não com os tenores de um coral, mas com uma voz ainda mais forte – aquela que sai do coração, aquela que mesmo abafada pelo engano da aparência ora ou outra se manifesta estridentemente. A essência da vida se perdeu em meio ao desinteresse, a motivações erradas e a um ego superestimado por você mesmo.

Não estou chamando ninguém de falso, nem duvidando do caráter de ninguém, muito pelo contrário sei que muito provavelmente você tem um bom coração, e não finge quando diz que ama a Deus. O negócio é que quando estamos aprendendo algo, usamos de toda cautela possível, mas quando finalmente aprendemos, nem nos atentamos muito para o processo, porque agente sabe. E a gente aprendeu a ser crente. Aprendeu tudo certinho, e vamos fazendo tudo sem errar só que sem querer

Não, você não é falso, você sabe disso. Você sabe em seu coração o quanto você ama a Deus. Tudo o que você faz, no fundo você sabe que é para e por Deus. Mas aquela gotinha do veneno da serpente chamada ego, ainda reluta dentro de você, querendo se sobressair, e cada elogio ouvido, cada conquista alcançada, cada posição alcançada, trás consigo uma ganância por mais, e aquilo que era o foco, passa a ser segundo plano, seus interesses pessoais se erguem e você percebe que agora, consciente ou não, você corre com todo ímpeto atrás de palavras lhe afague o ego, de conquistas que mostrem o seu valor, que mostrem que você é um “grande homem de Deus”.

E enfim vai chegar o dia que toda obra humana se desfará, e você verá que tudo o que você tinha se assemelhava àquelas flores Dente-de-Leão, que ao assoprar sobre elas sua aparência se desfaz, restando apenas o talo. Só isso. Uma vida onde Deus era um pretexto para satisfação de suas regalias. Mas isso não precisa acabar assim. Na verdade nem precisa chegar a este ponto. A Bíblia inteira tem Jesus como personagem principal e Ele não aceita um papel menor que esse em nossas vidas. Por isso convido não somente a você, mas a mim e toda a Igreja para novamente fazer uma entrega. Sim, entrega, não doação. Porque a nossa vida há muito que não é nossa, só o que precisamos é entregar de volta. Entregar nosso coração, não uma vez, mas todo santo dia, a cada elogio, a cada conquista, a cada derrota, a cada suspiro...

sábado, 17 de julho de 2010

Amar é Perdoar



As pessoas são estranhas. Sabe-se lá o que se passa em suas cabeças. Um movimento em falso ou palavra errada, inexplicavelmente, apaga, ainda que momentaneamente, os muitos anos de convivência. Descontroladas pela ira, contrapondo-se o amor, elas se esquecem que mais importante que se sobressair em uma situação, é o valor de um amigo, de um amante, de um pai, de uma mãe, de um desconhecido ou de qualquer um que seja. Não, eu não sou anormal, obviamente também estou incluído nessa triste verdade. O sangue sobe à cabeça, as sobrancelhas se curvam apertando os olhos vermelhos de raiva, e, no limiar do descontrole, a gente escolhe não se controlar, falamos tudo o que queremos sem pensar nas conseqüências, ou às vezes até pensamos, mas para falar a verdade, nem nos importamos, 'não estamos nem ai'.

Algumas vezes o arrependimento vem no primeiro segundo seguinte, mas o orgulho é grande demais para se calar, e maior ainda para pedir perdão. A essa hora do outro lado da história já tem alguém com o coração negro de raiva e a mágoa já disputa espaço com a sede de justiça própria, para não dizer vingança. E enfim terá a mesma quase incontrolada reação. Quando não, ela irá se calar. Não numa atitude de amor, mas alimentando aquele ódio penetrante, que em breve se tornará a doença da amargura.

Estando ou não com a razão ambos são bons demais para se rebaixar a ponto de pedir perdão. O limite de sua humildade se restringe a expressões como essa: 'Eu até pediria perdão, mas eu não estou errado.' 'Se me pedir perdão, eu perdôo numa boa.' Sim, já é um começo, mas não é suficiente. Pedir perdão quando a culpa não foi sua talvez seja tão difícil como voltar de um lugar que você nunca foi. Perdoar alguém que expôs sua nudez e rebaixou sua moral parece difícil quando o que você quer mais quer é “retribuir o favor”. O tempo passou e até hoje agente maquina planos mirabolantes de como atingir de alguma forma o ego da pessoa que feriu o nosso. Agente pode até fingir que não, mas até estar no mesmo lugar te faz um mal danado. Por mais engraçada que seja a piada que ela conte, agente não acha graça nenhuma, e quando acha, segura o riso e mantém a cara fechada. Talvez Shakespeare tivesse razão quando disse que 'Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra.'

Fazer um belo discurso sobre o que Deus acha de tudo isso me faz parecer um fariseu. Mas não me importo muito com isso. O que eu sei é que eu já fui ferido, já feri muitas pessoas, e já vi muitas pessoas se ferindo por causa da falta de amor. Jesus, a personificação do amor, sendo Deus, se rebaixou a posição de homem e sendo homem se rebaixou a condição de o pior dos homens. Ele tinha todas as justificativas possíveis para não se sujeitar. Ele poderia se quisesse. Mas não quis. Ele entendeu que se negasse sua reputação, seus prazeres e até sua vida, ele salvaria a muitos. Não é apenas uma questão de princípios, o fato é que nós somos a imagem de Cristo neste mundo. Talvez nem sempre, ou quase nunca consigamos, mas o objetivo é agir identicamente a Ele. Não pense que eu estou sendo legalista e querendo que todo mundo seja 'certinho' e tal. Ou melhor, eu quero sim, mas não de forma legalista, tudo isso debaixo da graça e do amor de Deus. É difícil manter a calma quando você está tomado de ira. É difícil perdoar quando você está tomado de mágoa. Sim, é muito difícil, mas não é nada comparado à abnegação de Jesus. Se um dia quisermos ao menos se parecer com Ele, o mínimo que podemos fazer é aquilo que Ele mais fez: AMAR. E não falo daquele amor que você assiste todos os dias na novela das oito ou em um filme qualquer, falo do Amor na sua essência: 'Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos.' Dar a vida, a reputação, o orgulho. Vale à pena amar. Ainda que você não receba nada em troca, não há maior satisfação do que saber que está tendo a mesma atitude de Jesus. Mas de qualquer maneira, não há quem resista ao magnetismo do amor. Se constantemente agirmos com amor, mais cedo ou mais tarde esse amor dará fruto. É na hora do vamos ver é que é difícil lembrar disso, mas sem esforço, nunca iremos conseguir. O que antes era impossível, com o passar do tempo, após insistente rotina de repetição, ela se torna hábito. Ora ou outra o nosso ego vai tentar mostrar que ele ainda está lá, tentando se esquivar de qualquer tipo de humilhação, mas mal sabe ele que a cada dia q passar ele vai perder o seu espaço em nossos corações. Renunciar à nós mesmo é desgastante, mas é também desproporcionalmente mais gratificante. A maior expressão de Deus em Jesus é o amor, e essa também é a maior revelação de Jesus que as pessoas podem ver em nós. 'Vai onde não há amor, e ama!'

domingo, 25 de abril de 2010

Carta para mim mesmo...


Um dia algo surpreendente acontece em nossa vida e agente descobre que tudo é muito melhor do que até então vivemos e conhecemos. Então queremos viver isso. Nosso coração se enche de sonhos e expectativas, trabalhamos incessantemente, num labor que parecia ser incansável, porque acreditávamos que podíamos mudar a história.

Umas derrotas aqui, outras ali, elas não faziam diferença, pois o desejo por ver concreto o sonho gerado era muito maior. Mas com o tempo essas derrotas se tornam cada vez mais freqüentes. Já nem dá mais tempo de tomar fôlego para a próxima. O pior não é isso. Acontece que as derrotas não vêm sozinhas, elas não ousariam deixar para trás a decepção, o medo, o desânimo. Enfim, se já não bastasse não alcançar aquilo que se espera, de repente surge algo novo para abalar o seu ânimo. Aquelas pessoas que você acreditava que sempre estariam ali, mesmo que tudo desse errado, na verdade não estão.

Na tentativa manter firme a imagem de uma pessoa forte,você não quer mostrar pra ninguém que seu coração na verdade está partido. Sim, você ainda sabe contar piadas, mas não era isso que você queria contar. Você queria não ter medo de contar tudo o que sente. Você queria ter alguém para quem contar. –Talvez algumas palavras de motivação me ajudariam. Você pensa. Mas enfim as ouve, e descobre que elas não ajudam nada. E tudo então parece estar perdido. Já não há mais o que fazer. Você já tentou de tudo. E agora tudo o que lhe resta é colocar aquele sorriso amarelo no rosto e continuar fazendo tudo da mesma maneira que você fazia, fingindo que está tudo bem, e esperando que, aos poucos, tudo o que você já fez se acabe. Até que então você não precise mais fazer nada. Não é isso o que você quer realmente. No fundo, aquele anseio inicial ainda existe, mas está muito fraco. Mas essa parece ser a única solução aceitável.

E assim você vai levando, ansioso por instantes em que enfim você poderá ficar sozinho e simplesmente chorar. Você não está chorando simplesmente pelos sonhos que se foram, mas por não mais existirem sonhos. Pelas expectativas nulas, pela falta de esperança. Eu quero aquilo de volta! Você se debate. Mas descobre que isso também não adianta nada. Então pela enésima vez você tenta de novo. Agora sem a inocência de quem nunca viveu. Ah como você queria de volta aquela inexperiência. Você pararia de olhar tanto para os “porém”, você desconfiaria menos, faria muito mais e iria muito mais longe. Mas você acorda e percebe que é experiente demais, já sabe de muita coisa, e sabe até qual é o resultado de tudo, por isso nem tenta. Aquele jovem sonhador que lutava por algo grande está preso num emaranhado de experiências ruins. Ele não soube filtrá-las e colher as coisas boas. Hoje ele pensa que as coisas boas não passaram de ilusão.

Poderíamos ficar horas aqui. Falando dos lamentos de quem um dia sonhou e não sonha mais. Não chegaríamos a lugar nenhum. E não há nada que eu possa dizer que você não saiba. Você sabe em que você precisa se apegar. Você sabe o que você deve fazer. Você sabe que chorar por chorar serve tanto quanto fazer por fazer. Nada foi em vão. Acredite nesse clichê. Não espere que as coisas mudem, vá em frente, e enfrente! Seu coração é valoroso demais para que cale. Fale das coisas que Deus te falou. É simples. Não precisa complicar as coisas. Tudo é tão simples quanto você acreditava naquela época. Deixa Deus usar você mesmo do jeito que você é, não precisa fingir nada. Foi você que Deus escolheu. Ele tinha um motivo pra isso. Sério! Não foi coincidência.