Quando eu era menor eu gostava muito de desenhar. Pra falar a verdade eu ainda gosto. Mas quando eu era menor, eu tinha meu caderno de desenhos, que mais tarde evoluiu para uma pasta, que guardo até hoje. Enfim, eu não me distanciava muito de um lápis, uma borracha e uma folha de papel. Era tão fácil começar um desenho, o difícil era chegar até o fim, depois de alguns borrões da borracha, e marcas dos erros e de dedo sujo no papel, dava um desânimo de terminar. O melhor que se tinha a fazer era arrancar a folha do caderno, amassar e começar de novo.
Às vezes tenho vontade de fazer isso. Agora não com um desenho, mas como minha vida. Tantos borrões, tantas marcas, essa bagunça toda sinceramente dá um desânimo lascado. É por isso que às vezes eu tenho vontade de ir embora, começar do zero, como numa folha em branco.
Mas como em todo desenho borrado, tem aquela parte que ficou boa. Aquela parte que ficou quase perfeita. Aquela parte que você com muito esforço conseguiu fazer, e sabe que se jogar fora, pode não mais conseguir fazê-la. Pois é, o lado ruim de abandonar tudo, é que você abandona tudo mesmo. Redundante, mas é isso. Abandona todas as feridas, todas as mágoas, mas também abandona muitos amigos, muitas conquistas, muitos sonhos...
Se vale a pena arriscar tudo isso eu não sei, mas todos os dias sou tentado a fazer isso. Todos os dias cabe a mim escolher entre persistir, ou simplesmente embolar a folha de papel, atirá-la contra o cesto de lixo e começar de novo em uma folha em branco. Uma folha de papel não custa mais do que alguns centavos, um desenho apesar de muito querido é somente um desenho, não há nenhuma perda irreparável. Mas nossa vida é diferente. Escolher parar de persistir pode causar muitos danos. Principalmente ao seu coração. Eu acho. Sei lá. Não cheguei a tomar essa decisão para poder falar com tanta firmeza. O que sei é que Deus não tem prazer em nos ver retroceder.
O ano de 2010 se encerrou, 2011 está só começando, talvez isso não seja a folha em branco tão desejada, mas é sim uma chance de começar de novo. Os borrões ainda estão lá, a folha já está quase furada de tanto apagar, mas a imagem final vai sobrepor qualquer defeito e rasura. E a imagem da qual falo não é mais daquele simples desenho, mas da imagem de Deus, e dela eu afirmo com certeza que não vale à pena desistir. E como no desenho, há um momento clímax, em que é preciso parar, se concentrar, olhar atentamente para o original, olhar atentamente para o desenho, e enfim perceber o que não está de acordo, e aonde você está errando; é preciso também parar, olhar que rumo que o lápis que dirige a sua vida está levando, e se for preciso apagar novamente, apague, mas deixe a Imagem que Deus quer estabelecer em sua vida ofuscar as manchas.
Não vou dizer que essa é opção mais fácil, porque não é. É muito mais fácil embolar a folha de papel, e quem sabe até nem tentar de novo. É muito mais fácil fugir de um relacionamento complicado do que lutar por ele, é muito mais fácil abandonar um sonho do que conquistá-lo. Escolher abrir mão de relacionamentos, é com certeza abrir mãos de todas as mágoas que vêm com ele. Abrindo mão dos sonhos você automaticamente se livra daquele fardo estafante de cansaço sem fim. Só que lembra-se daquela parte difícil que você conseguiu desenhar? Pois é, todas as alegrias compartilhadas e todos aqueles desejos esperados também vão por água abaixo.
É, parece que a folha não fica tão em branco assim. Como no caderno de desenho, você arrancou a folha de cima, mas na folha de baixo ainda se pode ver as marcas da folha anterior. No fim das contas, enquanto o desenho não está pronto, as marcas ainda estão lá, quer sejam para te lembrar tudo que você passou para chegar até onde chegou, ou as marcas da saudade daquilo que você estava prestes a terminar, mas desistiu, e não pôde ver o resultado final.
“Até que todos cheguemos a unidade dá fé, ao pleno conhecimento do filho de Deus, a varão perfeito, a estatura da Plenitude de Cristo.” (Efésios 4:13) É essa a imagem que Deus quer estabelecer em sua vida. Não arranque a folha até que você chegue à Plenitude de Cristo.