sábado, 9 de outubro de 2010

Jesus sem consoantes...



Sim, sem consoantes... Quando a vida cristã, se é que podemos assim dizer, não passa de um “mal hábito” do qual você não consegue se livrar e, Jesus, aquele seu amigo de domingo, sempre presente nos velhos jargões que não saem da sua boca, já quase não é lembrado, tudo o que resta são apenas duas vogais: EU.

Talvez eu tenha me expressado mal quando disse “mal hábito”. Não é que seja algo ruim que não se consiga mais parar de fazer; o negócio é que se tornou uma mera rotina. E embora a rotina de buscar a Deus possa parecer algo bom, o risco do coração se perder no meio dessa costumeira é bastante elevado. E enquanto essa rotina se solidifica, seu subconsciente estabelece alguns paradigmas. “Ir para igreja todo domingo é meu dever de cristão, e é o mínimo que eu devo fazer.” Não! Não, não e não! O mínimo que você deve fazer é entregar seu coração para Deus todo santo dia.

YHWH. É como o nome de Deus era escrito pelos judeus. Coincidência ou não, eles omitiam as vogais por não se considerarem dignos de mencionar tal Nome. E hoje, o que lastimavelmente acontece é que o que omitimos são as consoantes, agora não mais no papel que se escreve, mas no coração. Seja numa incansável busca pelos privilégios do evangelho da prosperidade, ou num marasmo bolorento da vida cristã de quem não quer fazer nada, ou mesmo na estafante trilha rumo a uma gloriosa posição que lhe dê um mínimo de status. Seja lá qual for o caso, Jesus há muito ficou para trás.

“Venha a nós o nosso reino, seja feita a nossa vontade” em coro é entoado, não com os tenores de um coral, mas com uma voz ainda mais forte – aquela que sai do coração, aquela que mesmo abafada pelo engano da aparência ora ou outra se manifesta estridentemente. A essência da vida se perdeu em meio ao desinteresse, a motivações erradas e a um ego superestimado por você mesmo.

Não estou chamando ninguém de falso, nem duvidando do caráter de ninguém, muito pelo contrário sei que muito provavelmente você tem um bom coração, e não finge quando diz que ama a Deus. O negócio é que quando estamos aprendendo algo, usamos de toda cautela possível, mas quando finalmente aprendemos, nem nos atentamos muito para o processo, porque agente sabe. E a gente aprendeu a ser crente. Aprendeu tudo certinho, e vamos fazendo tudo sem errar só que sem querer

Não, você não é falso, você sabe disso. Você sabe em seu coração o quanto você ama a Deus. Tudo o que você faz, no fundo você sabe que é para e por Deus. Mas aquela gotinha do veneno da serpente chamada ego, ainda reluta dentro de você, querendo se sobressair, e cada elogio ouvido, cada conquista alcançada, cada posição alcançada, trás consigo uma ganância por mais, e aquilo que era o foco, passa a ser segundo plano, seus interesses pessoais se erguem e você percebe que agora, consciente ou não, você corre com todo ímpeto atrás de palavras lhe afague o ego, de conquistas que mostrem o seu valor, que mostrem que você é um “grande homem de Deus”.

E enfim vai chegar o dia que toda obra humana se desfará, e você verá que tudo o que você tinha se assemelhava àquelas flores Dente-de-Leão, que ao assoprar sobre elas sua aparência se desfaz, restando apenas o talo. Só isso. Uma vida onde Deus era um pretexto para satisfação de suas regalias. Mas isso não precisa acabar assim. Na verdade nem precisa chegar a este ponto. A Bíblia inteira tem Jesus como personagem principal e Ele não aceita um papel menor que esse em nossas vidas. Por isso convido não somente a você, mas a mim e toda a Igreja para novamente fazer uma entrega. Sim, entrega, não doação. Porque a nossa vida há muito que não é nossa, só o que precisamos é entregar de volta. Entregar nosso coração, não uma vez, mas todo santo dia, a cada elogio, a cada conquista, a cada derrota, a cada suspiro...

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